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13 de Maio - "Dia da Abolição da Escravatura no Brasil" - Reflexões


Hoje acordamos com esse sendo o principal tema nas redes sociais, jornais (escrito e falado) e tantas outras fontes de informação.


Logo no primeiro parágrafo da primeira leitura, nosso ânimo transbordou de alegria! Pensamos... "Finalmente! Que dia histórico! Fomos dando sequência à matéria e logo nos chocamos com o ano de 1888. Opa! Seria um erro de digitação?! Infelizmente, não foi um erro de digitação.


A matéria se referia, sim, ao ano de 1888, onde teria ocorrido a 'abolição da escravatura no Brasil'. Sentimos que tenham esquecido de nos avisar!


Claro! Entre tantas farsas na história de nosso país, a 'abolição' foi mais uma.


Não pretendemos fazer um resgate histórico, desde a chegada dos negros no Brasil, até os dias atuais. Considerando que a maioria dos brancos tenham tido acesso à escolas e conheçam parte, ainda que romantizada, dessa história da 'abolição'... e que os negros conhecem na pele sua verdadeira história, antes mesmo do surgimento (através da luta do Movimento Negro Unificado) da 'Consciência Negra' (cujo dia é comemorado em 20 de novembro, data da morte em combate de Zumbi dos Palmares e de sua companheira Dandara, dentre muitos outros negros massacrados por ordem do Império), nos propusemos a refletir e a questionar a situação atual dos negros ... e validar ou não essa conquista de "abolição".


A hipocrisia e a forma como falamos sobre o assunto faz com que minimizamos a violência cometida às pessoas negras. Essas violências permanecem, são veladas e ganham outras formas.


A negação à um passado histórico de colonização e escravização do trabalho do outro, não nos permite avançarmos na construção de políticas públicas reparativas e afirmativas de direitos.


Ficarmos tecendo comparações com outras etnias, tentando suprimir os horrores cometidos (com incentivos da Monarquia e da Igreja, em especial) não tem ajudado. É constrangedor admitir a perversidade de uma raça (e de uma classe) sobre a outra; então, pontuamos algumas questões superficiais. Maior ainda é a vergonha em reconhecer o que representou a igreja tradicional como grande parceira comercial na relação de compra e venda de seres humanos.


Vamos tentar estreitar nossas relações. Não se culpe pelos erros de seus antepassados, mas considere as desigualdades impostas desde que chegamos. Da nossa parte, podemos - e devemos - contar verdades sobre a história do povo negro. Juntos, passaremos a legitimar direitos, numa tentativa de "reparar" um histórico de negação.


Os negros não nasceram escravos! Nasceram livres, na Mãe África, de onde foram barbaramente arrancados.


E não eram 'pagãos', como mentiam os europeus! Já tinham, há milênios, suas crenças, seus deuses e suas formas de manifestações religiosas. Não eram aculturais. A cultura negra é muito rica, cheia de cores e sons, alegria, vida.


Ao serem arrancados, trazidos como selvagens e vendidos, trocados, usados como moeda, por menor ou maior valores, de acordo com padrões estabelecidos pelos brancos comerciantes de escravos, aqueles que sobreviveram trouxeram consigo suas identidades e todos os elementos que a constituíram.


Pouco a pouco, no decorrer de alguns séculos, a imposição da cultura branca europeia fez com que perdessem alguns elementos de sua cultura mãe. Contudo, não ocorreu nenhuma perda de suas identidades, como seres humanos, suas necessidades transformadas em direitos.


Entretanto, em pleno século XXI, em 13 de maio de 2020, ainda não tem os negros acesso à maioria das garantias constitucionais, como direitos fundamentais, "dadas" a [quase] todo cidadão brasileiro. Para obterem isso, é preciso serem retomadas e aprofundadas políticas públicas reparativas e afirmativas de direitos.


Podemos, brevemente, exemplificar os direitos negados - ou ofertados de má qualidade e em número insuficiente. Acesso e assistência à saúde; acesso e permanecia à escola, pública e de qualidade; acesso à programas de habitação, trabalho e renda. Políticas Públicas para mulheres... e outros tantos direitos fundamentais que, para os negros (principalmente) e para os excluídos sociais (de várias etnias) ainda não foram assegurados.


Não venham citar programas assistencialistas, muitos com objetivo eleitorais, reprodutores deste modelo cultural de segregação. Os negros também lutam pela equiparação de oportunidades, para que, como sujeitos capazes que são, possam ocupar os mais diversos espaços sociais.


Importante salientar que os negros não desejam tirar direitos dos brancos, de ninguém aliás, pois sabem como ninguém o que é estar à margem. Também, não precisam do 'sentimento cristão' de pena, precisam de justiça. Ainda: Perceber suas características pessoais, sua arte e religião, você pode não gostar mas, no mínimo você vai ter que respeitar. Precisam os negros somente que os olhem sem preconceitos, como gente - nem melhor, nem pior que ninguém -, como humanos e inacabados (como são todos os seres humanos, indistintamente), dispostos a buscar nossa evolução moral e intelectual.


Vivemos tempos muito difíceis, onde as poucas conquistas, na área dos direitos humanos, foram perdidas. O contexto político favoreceu à que todos os monstros, guardados no armário, se sentissem libertos e autorizados a atacar toda e qualquer diversidade.


Está muito difícil sermos Resistência mas, precisamos todos (negros, brancos, índios...) perseverar e lutar. Alguma gota de humanidade precisa sobreviver para, após a passagem dessa onda de ignorância em que vivemos - em particular no último período - construirmos uma sociedade mais justa e igualitária.


Por fim, que possamos usar o dia para repensarmos nossas práticas, nossas ferramentas de luta e organizações sociais. Para, quem sabe um dia, não precisarmos mais de datas como a de hoje.

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-Cátia Cristina Corrêa Velasco, Servidora do Judiciário, feminista.

-Ana Paula Gatiboni Faccin, Educadora Especial, sindicalista, feminista.

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