Coluna Crítica & Autocrítica - nº 188
Por Júlio Garcia**
*“O que leva pessoas como o procurador geral eleitoral a bolsonarar?” A pergunta é do jornalista Luis Nassif. Pois ele mesmo responde no - importante e qualificado – Jornal GGN (postagem repostada no Blog do Júlio Garcia, que edito). Leia a seguir:
“O vice-procurador-geral eleitoral Renato Brill de Goés não é um bolsominion típico. Pelo contrário. Até a semana passada era um procurador considerado, com boas posições em direitos humanos. Virou Bolsonaro.
O Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta é um médico racional, que tem dado demonstrações de maturidade e responsabilidade pública excepcionais. E era Bolsonaro.
O que leva pessoas desse nível a aderirem ao que de pior a política brasileira apresentou em todos os tempos? A adesão a Bolsonaro há muito deixou de ser uma opção política para se tornar uma escolha moral.
O que acontece com o caráter de pessoas como Brill de Góes, para ter a presunção de acabar com um partido político [Partido dos Trabalhadores] que representa várias dezenas de milhões de eleitores brasileiros? Como pode alguém que se considera minimamente racional e conhecedor de princípios jurídicos e de direitos humanos, proceder a essa confusão entre pessoas e a instituição do partido a ponto de ter essa pretensão de varrer do mapa político o maior partido brasileiro?
Seria vontade de agradar o chefe? Seria o fato de querer impor autocraticamente seu antipetismo sobre 47 milhões de eleitores? Seria o fato de que suas convicções se adaptam às circunstâncias da sua carreira profissional? Vale tanto a pena assim manchar sua biografia com um gesto dessa natureza?
Mandetta fez o caminho inverso. Chegou ao posto de Ministro por sua adesão ao bolsonarismo. No poder, lembra o personagem de Vitório de Sicca, no filme “De crápula a herói”. Percebeu a relevância do cargo, a responsabilidade pública e passou a ter um papel central no combate à doença, indo contra o chefe. Vai ser demitido ou não, pouco importa. Em um país de oportunismos, de pusilanimidade de homens públicos, Mandetta inscreveu-se na história.
Por outro lado, quantos procuradores/as exemplares, de biografia irrepreensível, acabaram jogando fora história, imagem e reputação para agradar ao Deus do momento, fosse Bolsonaro ou a mídia? Os exemplos estão aí, à vista de Brill de Goes. Na era das redes sociais, o julgamento da história não precisa aguardar décadas para se realizar.
Quando passar o vendaval, e poderá ser em breve, gestos dessa natureza serão contados como o caso do procurador que empenhou sua biografia em troca do fogo fátuo de um poder que acabará na próxima esquina da história.”
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*A propósito, Jair Bolsonaro fez nesta quarta-feira mais um pronunciamento em rede nacional de TV e rádio sobre as medidas adotadas [ou da falta delas] para conter a pandemia do novo coronavírus. Segundo o site ‘Conversa Afiada’, “em um tom abaixo do normal (para ele), Bolsonaro disse que respeita a autonomia de prefeitos e governadores, mas destacou que não foi consultado sobre as atitudes tomadas para promover o isolamento social. Ele também tornou a defender o uso da cloroquina [de eficiência ainda não comprovada pela medicina e que produz enormes efeitos colaterais] em pacientes com o novo coronavírus”.
Destacou ainda o site que “enquanto Bolsonaro falava, o panelaço tomava as janelas de todo o Brasil”.
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**Júlio César Schmitt Garcia é Advogado, Pós-Graduado em Direito do Estado, Consultor, dirigente político (PT) e Midioativista. Foi um dos fundadores do PT e da CUT. - Publicado originalmente no Jornal A Folha (do qual é Colunista) em 10/04/2020.