Eduardo Moreira critica medidas de Bolsonaro: "Insensibilidade com os mais pobres"
Segundo economista, redução de jornada e salários revela como o risco nunca foi dos empresários, mas dos trabalhadores
"O que o governo tem que fazer, em primeiro lugar, é fazer cair a Emenda Constitucional 95", afirma Eduardo Moreira - Marcelo Camargo/Agência Brasil
"Essa crise vai passar, mais tempo ou menos tempo. E a maneira como a gente sai da crise faz toda a diferença", explica o economista Eduardo Moreira. Ele critica as medidas econômicas adotadas pelo Governo Federal, anunciadas nesta semana, que entre outras coisas, reduzem jornadas e salários de trabalhadores.
"O que o governo tem que fazer, em primeiro lugar, é fazer cair a Emenda Constitucional 95. Ela já era um absurdo e agora é um absurdo maior ainda", aponta.
Segundo o economista, "todas essas medidas tomadas pelo Brasil são quase nada de dinheiro novo". "O que vem de crédito, ainda tem esses custos gigantes. O que estão dizendo que são medidas econômicas, na verdade são uma maneira de antecipar alguns valores que seriam recebidos na frente do ano e postergar receita. Mas você não vai receber lá na frente e vai ter que pagar", afirma.
O governo de Jair Bolsonaro liberou auxílios financeiros para os trabalhadores informais, no valor de R$ 200 por mês, restrito àqueles que integram o Cadastro único do governo. Segundo o IBGE, o Brasil têm mais de 40 milhões de trabalhadores na informalidade.
Para Moreira, "nada justifica o que esse governo está fazendo". "É uma total insensibilidade com a população mais pobre. E são medidas de quem não entende nada da população mais pobre. Pedem para baixar um aplicativo [para receber o auxílio financeiro], mas quem disse que a pessoa tem smartphone, ou que a pessoa tem wi-fi para acessar, quem disse que o cara sabe mexer no aplicativo?", completa.
As reduções em jornadas de trabalho e salário, segundo o economista, são incompatíveis com o discurso neoliberal de que os empresários aceitam riscos e por isso recebem maiores lucros.
"Que risco é esse do empresário se quando as coisas vão mal, você quer dividir com o trabalhador esse risco? O governo deveria lançar um programa para defender as empresas que não demitirem seus funcionários. E um programa restrito apenas a essas empresas. O efeito é que a gente vai ver um monte de empresa quebrando e o dono continuando rico", explica.
A China, epicentro da pandemia de Coronavírus, anunciou recentemente que não há mais contágios comunitários, ou seja, o vírus não se espalha mais pelo país. Para Moreira, a maneira como o gigante asiático lidou com a crise irá coloca-lá em uma nova dimensão econômica.
"O país que primeiro vai sair da crise é a China, vamos lembrar que a China tem um mercado doméstico muito forte, a China tem uma capacidade industrial instalada muito forte e a China tem recursos naturais. A China vai ocupar um novo lugar no tabuleiro geopolítico e econômico mundial. Os Estados Unidos estão lidando mal com a crise e devem sair mal", diz.
Moreira lembra da recente crise diplomática propagada pelo deputado federal, Eduardo Bolsonaro (sem partido), ao culpabilizar a China pela disseminação do vírus. "E com quem a gente está comprando briga? Com a China. Uma briga maluca, de um filhinho de papai que não tem o que fazer e deve estar neurótico com a quarentena dele. E já tem uma condição psicológica duvidosa", conclui.
*Por José Eduardo Bernardes, do Brasil de Fato
Edição: Leandro Melito