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Coluna Crítica & Autocrítica - nº 185


Por Júlio Garcia**


*O ex-Presidente Lula recebeu, na última segunda-feira, 2/03, das mãos da prefeita Anne Hidalgo, o título de Cidadão Honorário de Paris. Convenhamos: isso não é pouca coisa! A imprensa mundial deu o devido destaque mas ... a maior parte da mídia nacional ‘ignorou’ (ou melhor, boicotou a informação de seus leitores/expectadores/ouvintes). Sem surpresas...


*A propósito disso, o conceituado jornalista Joaquim de Carvalho escreveu: “O Jornal Nacional da Rede Globo e os maiores jornais brasileiros sonegaram de seu público a notícia de que Lula recebeu ontem o título de Cidadão Honorário de Paris.


É como se, em 2001, a imprensa da África do Sul ignorasse a entrega do mesmo prêmio a Nélson Mandela, uma das 17 personalidades que receberam o título antes do ex-presidente brasileiro. Em 2011, a imprensa nacional noticiou a entrega do título ao cacique Raoni, o único brasileiro que recebeu o título antes de Lula. A desonestidade jornalística da Folha, O Globo e Estadão [etc.] fica evidente se comparada à repercussão em Paris da entrega do prêmio.


Os conselheiros (vereadores) dos partidos de centro e de direita [de Paris] acusaram a prefeita Anne Hidalgo de usar a popularidade de Lula para se promover às vésperas das eleições municipais, em que ela tentará a sua reeleição. Eles divulgaram carta para protestar, uma sinalização de que o evento tem relevância.


O boicote comprova que os grandes jornais [e canais de tv] se tornaram uma organização política de direita no Brasil, empenhada na desconstrução da mais expressiva liderança popular que o Brasil já teve. Quando Lula foi preso, esses mesmos jornais fizeram intensa cobertura.


Certamente, Lula não se surpreendeu, pois em seu discurso ele já havia alertado que a velha mídia foi cúmplice na ascensão do fascismo no país. “Bastaram 13 anos de governos que olharam o povo em primeiro lugar, para começarmos a reverter a doença secular da desigualdade em nosso país”, disse ele.


“Foram passos ainda pequenos para a dimensão do desafio, mas estávamos no caminho certo, porque 36 milhões saíram da pobreza extrema e o Brasil saiu do tristemente conhecido Mapa da Fome da ONU. Este processo, ao longo do qual cometemos erros, certamente, porém muito mais acertos, foi interrompido em 2016 por um golpe parlamentar, sustentado por poderosos interesses econômicos e geopolíticos, com apoio de seus porta-vozes na mídia e em postos-chave das instituições.


Como sabem, a presidenta Dilma, uma mulher honrada, foi afastada pelo Congresso sem ter cometido crime nenhum, num processo em que as formalidades encobriram acusações vazias. A este primeiro golpe contra a Constituição e a democracia, seguiu-se a farsa judicial em que fui condenado, também sem ter cometido crime algum, por um juiz que hoje é ministro do presidente que ele ajudou a eleger com minha prisão.


Quando a Justiça Eleitoral cassou minha candidatura, contrariando uma determinação da ONU baseada em tratados internacionais assinados pelo Brasil, lançamos a candidatura do companheiro Fernando Haddad. Ele foi vítima de uma das mais perversas campanhas de mentiras por meio das redes sociais, disparadas e financiadas ilegalmente pelo adversário, num crime eleitoral que denunciamos e que até hoje, passados quase18 meses, não foi julgado pelo tribunal competente. O candidato que venceu aquelas eleições, dono de um histórico de ataques à democracia e aos direitos humanos, foi poupado pelas grandes redes de televisão de enfrentar em debates o companheiro Haddad. Essa mídia, portanto, é corresponsável pela ascensão de um presidente fascista ao governo do Brasil.”

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*Disse mais o jornalista Joaquim de Carvalho (no site DCM, também repostado no meu Blog): “Desde que Lula foi preso, em abril de 2018, apenas a Folha de S. Paulo solicitou entrevista com Lula, por meio da colunista Mônica Bergamo. Estadão e Globo nunca manifestaram interesse de ouvi-lo, como se Lula não fosse notícia. Será que as maiores publicações do mundo, que já o ouviram, estão erradas e os jornais brasileiros, certos? É claro que não. (...) Escondê-lo faz parte da estratégia de fazer avançar a agenda neoliberal, da qual Lula é adversário.


Como mostra a repercussão da entrega do título em Paris e comportamento da velha imprensa brasileira, a Globo e os grandes jornais não fazem jornalismo, praticam lobby.

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**Júlio César Schmitt Garcia é Advogado, Pós-Graduado em Direito do Estado, Consultor, Poeta, dirigente político (PT) e Midioativista. Foi um dos fundadores do PT e da CUT. - Publicado originalmente no Jornal A Folha (do qual é Colunista) em 06/03/2020.

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