Dilma ao Estadão, que disse que seria “muito difícil” escolher entre Haddad e Bolsonaro: A imprensa
Dilma em Governador Valadares durante a campanha de 2018. Foto Roberto Stuckert Filho, no Instagram de Dilma
"De um lado, o direitista Jair Bolsonaro (PSL), o truculento apologista da ditadura militar; de outro, o esquerdista Fernando Haddad (PT), o preposto de um presidiário. Não será nada fácil para o eleitor decidir-se entre um e outro." O Estado de S. Paulo, no editorial Uma Escolha Muito Difícil, de 08.10.2018
Da Redação do Viomundo*
Ao longo de seus mandatos, os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff não fizeram lives de madrugada no Facebook, ameaçando cassar a concessão da TV Globo.
Nenhum deles decidiu cortar assinaturas dos jornais dos homens brancos e ricos que sempre controlaram os grandes grupos de comunicação no Brasil — pelo contrário, foi farto o financiamento a eles através da chamada “mídia técnica”, a maneira que se encontrou de manter tudo exatamente como sempre foi.
A presidenta Dilma Rousseff, mesmo vítima de uma ficha falsa que o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo publicou na capa, em período eleitoral, compareceu pessoalmente a uma cerimônia promovida pela família Frias, depois de assumir o segundo mandato, num gesto do republicanismo que marcou a mandatária.
Em 2016, Dilma foi vítima de um golpe marcado pelo machismo e a misoginia.
Agora, a herdeira do trabalhismo não se esquivou de responder ao quartel-general do antigetulismo, O Estado de São Paulo.
Em editorial de 2018, o jornal de latifundiários falidos, hoje administrado por banqueiros, escreveu que uma escolha entre o professor universitário Fernando Haddad — ex-ministro da Educação, mestre em economia e doutor em filosofia — e o ex-capitão expulso do Exército Jair Bolsonaro — adorador do torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, envolvido com o laranja Fabrício Queiroz e cercado por milicianos nos gabinetes de seu clã — seria “uma escolha muito difícil”.
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SOBRE OS SURTOS NEOFASCISTAS E A COVARDIA
Do Dilma.com.br
A presidenta Dilma Rousseff recebeu do jornal Estado de S. Paulo uma pergunta sobre o que ela pensa da defesa que Eduardo Bolsonaro fez do AI-5, ao dizer que eventuais protestos contra o governo poderiam tornar necessário um ato de força semelhante.
Eis a sua resposta, em nota enviada ontem ao jornal:
SOBRE OS SURTOS NEOFASCISTAS E A COVARDIA
Dilma Rousseff
Ninguém, dos órgãos de imprensa, pode se declarar surpreendido pela manifestação do deputado Eduardo Bolsonaro a favor do AI-5.
Na verdade, ninguém pode se surpreender porque já houve seguidas manifestações contra a democracia por parte da família Bolsonaro.
Defenderam a ditadura militar e, portanto, o AI-5; reverenciaram regimes totalitários e ditadores; homenagearam o torturador e a tortura; confraternizaram com milicianos.
Desde sempre pensaram e agiram a favor do retrocesso.
Antes das eleições não havia duvidas a respeito.
Durante as eleições e depois dela, muito menos, pois têm se expressado contra a democracia e os princípios civilizatórios em todas as oportunidades que tiveram.
O grave é que nunca receberam da imprensa a oposição enérgica que mereciam.
Ao contrário, acredito que a imprensa fez vista grossa ao crescimento do neofascismo bolsonarista, porque este adotara a agenda neoliberal.
É que, além das pautas neofascistas, a extrema direita defende a retirada de direitos e de garantias ao trabalho e à aposentadoria; as privatizações desnacionalizantes das empresas públicas e da educação universitária e a suspensão da fiscalização e da proteção ambiental à Amazônia e às populações indígenas.
Não é possível alegar surpresa ou se estarrecer diante da defesa do AI-5.
Na verdade, em prol da realização da agenda neoliberal, na melhor hipótese se auto iludiram, acreditando que poderiam cooptar ou moderar Bolsonaro.
Mas a defesa do AI-5 e da ditadura sempre esteve lá.
Vamos novamente lembrar, o chamado filho 03, que agora diz que considera o AI-5 necessário, é o mesmo que, há algum tempo, disse que “um soldado e um cabo” bastavam para fechar o STF.
Óbvio que sem o poder coercitivo de um AI-5, isto nunca seria possível.
O presidente, então ainda deputado, proferiu no plenário da Câmara um voto em que homenageou um dos mais notórios e sanguinários torturadores do regime militar.
Aquele coronel só agiu com tal brutalidade contra os opositores do regime militar porque estava protegido pelo AI-5.
Jair Bolsonaro afirmou em entrevista que a ditadura militar cometeu poucos assassinatos de opositores políticos. E que os militares deviam ter matado “pelo menos uns 30 mil”.
Também afirmou, na campanha do ano passado, que, se vencesse a eleição, só restariam dois caminhos aos petistas – o exílio ou a prisão – e de que maneira isto seria possível sem a força brutal de um ato institucional como o AI-5?
É estranho que me perguntem o que eu acho da última declaração sobre o AI-5, pois a minha vida toda lutei, e continuo lutando, contra o AI-5, seus assemelhados e seus defensores.
O Estadão, que me faz esta pergunta, também deve e precisa responder, pois sua posição editorial tem sido, diga-se com muita gentileza, no mínimo ambígua diante da ascensão da extrema direita no País.
Quem nunca questionou as ameaças da família Bolsonaro com a firmeza necessária e que, em nome de uma oposição cega, covarde e irracional ao PT, se omitiu diante do crescimento do ódio e da extrema-direita, tornou-se cúmplice da defesa canhestra do autoritarismo neofascista.