Coluna Crítica & Autocrítica - nº 169
Por Júlio Garcia**
*A caótica (ou trágica, sem exageros) situação política vivenciada no país (política, econômica, institucional...), responsabilidade (ou falta dela) do desgoverno do “presidente” (sic) Bolsonaro, é imperiosa para que sigamos abordando nesta Coluna o tema “conjuntura nacional” – e seus desdobramentos, que passam, sem exageros, pelo possível afastamento (ou interdição) do desequilibrado fascista que, favorecido pelas fakes news e demais maracutaias jurídicas/midiáticas/parlamentares, levou parcela maior do eleitorado brasileiro a, equivocadamente, eleger ‘o pior dentre os piores’ candidatos nas eleições presidenciais passadas.
*O que colocamos acima não é ‘delírio’ - nem ‘mera manifestação da vontade’ deste modesto colunista. Bolsonaro e vários de seus ministros (& filhos) passaram de todos os limites razoáveis até para quem, dias atrás, fazia ‘vistas grossas’ para o verdadeiro hospício governamental. A ABI (Associação Brasileira de Imprensa, que promoveu esta semana um grande Ato de desagravo e solidariedade ao jornalista Glenn Greenwald e à aguerrida equipe do The Intercept Brasil) e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) não lhe tem poupado críticas veementes. Os ‘olhos do mundo’ também estão focados – com assombro – no Brasil. O jornal Folha de S. Paulo - um dos principais veículos da chamada ‘grande mídia’ (PiG), que esteve na linha de frente da articulação do golpe contra a presidenta Dilma, da campanha pela condenação sem provas do presidente Lula, jornal esse que foi também (juntamente com a Globo, Veja, IstoÉ, Estadão e seus satélites regionais, dentre outros) um dos responsáveis pela eleição do bozo (e que só deixou de apoiá-lo recentemente, quando os vazamentos da Vaza Jato tornaram isso impossível, exceto para a Globo, é claro!) assim se pronunciou em recente Editorial, cujos excertos publicamos abaixo:
“Numa escalada sem precedentes de insultos às normas de convívio democrático, aos fatos históricos, às evidências científicas e aos direitos humanos, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) aguçou nos últimos dias as tensões e incertezas em torno de sua administração.
Se no início de mandato declarações e medidas estapafúrdias ainda podiam, com boa vontade, ser vistas como tentativa de satisfazer o eleitorado mais fiel e ideológico, o que se verifica agora é um padrão de atitudes que ofendem o Estado de Direito, reforçam preconceitos e aprofundam as divisões políticas.
Além de expor o despreparo do chefe do Executivo para desempenhar suas funções num quadro de coexistência com as diferenças, a insistência na agressão e na boçalidade revela uma personalidade sombria que parece se reconhecer, com júbilo, nas trevas dos porões da ditadura militar. As insinuações sórdidas acerca do pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz —morto, segundo as investigações, sob a guarda do poder autoritário—, são um exemplo da pequenez e da leviandade a que pode chegar o presidente.
Não espanta, aliás, que tenha classificado como “balela” documentos oficiais sobre abusos cometidos pelo regime. Já eram, afinal, conhecidos seus elogios ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, bem como suas simpatias pelas violações praticadas no submundo dos órgãos de repressão. Enganou-se, infelizmente, quem esperou que a condição de presidente da República levaria o ex-deputado nanico a moderar o discurso e buscar alguma conciliação.
Pelo contrário, são os traços intolerantes e obscurantistas do mandatário que saltam aos olhos (...) Talvez transtornado com as críticas à indicação vexatória de um filho à embaixada em Washington, ou com as investigações que envolvem outro, Bolsonaro aprofunda a estratégia populista e acentua a retórica de confrontação.
Com índices de aprovação aquém dos obtidos por seus antecessores em igual período do mandato, o presidente desperta crescente apreensão quanto a seu desempenho nos anos vindouros. Para alguns analistas, os destemperos verbais já começam a fornecer munição para um eventual enquadramento em crime de responsabilidade, por procedimentos incompatíveis com a dignidade, a honra e o decoro do cargo." (...)
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**Júlio César Schmitt Garcia é Advogado, Pós-Graduado em Direito do Estado, Consultor, Poeta, dirigente político (PT) e Midioativista. Foi um dos fundadores do PT e da CUT. - Publicado originalmente no Jornal A Folha (do qual é Colunista) em 02/08/2019.