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Canto dos Palmares

  • Foto do escritor: O Boqueirão Online
    O Boqueirão Online
  • 20 de nov. de 2018
  • 3 min de leitura

Eu canto aos Palmares sem inveja de Virgílio, de Homero e de Camões porque o meu canto é o grito de uma raça em plena luta pela liberdade!

Há batidos fortes de bombos e atabaques em pleno sol Há gemidos nas palmeiras soprados pelos ventos Há gritos nas selvas invadidas pelos fugitivos…


Eu canto aos Palmares odiando opressores de todos os povos de todas as raças de mão fechada contra todas as tiranias!


Fecham minha boca mas deixam abertos os meus olhos Maltratam meu corpo minha consciência se purifica Eu fujo das mãos do maldito senhor! Meu poema libertador é cantado por todos, até pelo rio.


Meus irmãos que morreram muitos filhos deixaram e todos sabem plantar e manejar arcos Muitas amadas morreram mas muitas ficaram vivas, dispostas a amar seus ventres crescem e nascem novos seres.


O opressor convoca novas forças vem de novo ao meu acampamento… Nova luta. As palmeiras ficam cheias de flechas, os rios cheios de sangue, matam meus irmãos, matam minhas amadas, devastam os meus campos, roubam as nossas reservas; tudo isto para salvar a civilização e a fé…


Nosso sono é tranqüilo mas o opressor não dorme, seu sadismo se multiplica, o escravagismo é o seu sonho os inconscientes entram para seu exército…


Nossas plantações estão floridas, Nossas crianças brincam à luz da lua, nossos homens batem tambores, canções pacíficas, e as mulheres dançam essa música…


O opressor se dirige aos nossos campos, seus soldados cantam marchas de sangue. O opressor prepara outra investida, confabula com ricos e senhores, e marcha mais forte, para o meu acampamento! Mas eu os faço correr…


Ainda sou poeta meu poema levanta os meus irmãos. Minhas amadas se preparam para a luta, os tambores não são mais pacíficos, até as palmeiras têm amor à liberdade…


Os civilizados têm armas e dinheiro, mas eu os faço correr… Meu poema é para os meus irmãos mortos. Minhas amadas cantam comigo, enquanto os homens vigiam a terra.


O tempo passa sem número e calendário, o opressor volta com outros inconscientes, com armas e dinheiro, mas eu os faço correr… Meu poema é simples, como a própria vida. Nascem flores nas covas de meus mortos e as mulheres se enfeitam com elas e fazem perfume com sua essência…


Meus canaviais ficam bonitos, meus irmãos fazem mel, minhas amadas fazem doce, e as crianças lambuzam os seus rostos e seus vestidos feitos de tecidos de algodão tirados dos algodoais que nós plantamos.


Não queremos o ouro porque temos a vida! E o tempo passa, sem número e calendário… O opressor quer o corpo liberto, mente ao mundo e parte para prender-me novamente…


– É preciso salvar a civilização, Diz o sádico opressor… Eu ainda sou poeta e canto nas selvas a grandeza da civilização a Liberdade! Minhas amadas cantam comigo, meus irmãos batem com as mãos, acompanhando o ritmo da minha voz….


– É preciso salvar a fé, Diz o tratante opressor… Eu ainda sou poeta e canto nas matas a grandeza da fé a Liberdade… Minhas amadas cantam comigo, meus irmãos batem com as mãos, acompanhando o ritmo da minha voz….


Saravá! Saravá! repete-se o canto do livramento, já ninguém segura os meus braços… Agora sou poeta, meus irmãos vêm comigo, eu trabalho, eu planto, eu construo meus irmãos vêm ter comigo…


Minhas amadas me cercam, sinto o cheiro do seu corpo, e cantos místicos sublimizam meu espírito! Minhas amadas dançam, despertando o desejo em meus irmãos, somos todos libertos, podemos amar! Entre as palmeiras nascem os frutos do amor dos meus irmãos, nos alimentamos do fruto da terra, nenhum homem explora outro homem…


E agora ouvimos um grito de guerra, ao longe divisamos as tochas acesas, é a civilização sanguinária que se aproxima. Mas não mataram meu poema. Mais forte que todas as forças é a Liberdade…


O opressor não pôde fechar minha boca, nem maltratar meu corpo, meu poema é cantado através dos séculos, minha musa esclarece as consciências,


Zumbi foi redimido…


Elisa Lucinda

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