Crítica & Autocrítica - nº 132
EU CANTO
Eu canto
com profundo prazer, com emoção
o povo que optou por ser livre
e que por isso sangrou.
Os heróis e os anônimos.
A América Latina
(vulcão em atividade permanente).
O fogo descendo pelas encostas das neves andinas,
Eternas, desafiadoras, majestosas...
E madrastas.
Guevara eternizando seu exemplo
nos vales e montanhas bolivianas.
...
Eu canto o feito épico
de Lamarca lutando contra a fome
e as injustiças no Vale da Ribeira.
As crianças da Nicarágua
entoando suas canções sandinistas
(que falam em um porvir
com rios de leite e mel).
Eu canto a epopeia vivenciada
pelos povos, todos, de nosso imenso
e explorado continente
(do Altiplano, das savanas, dos pampas sem fronteiras,
da Amazônia infinita, das selvas colombianas...).
...
Eu canto
os camponeses, os índios
despojados de suas terras.
Os combatentes mortos no Peru
nas selvas do Araguaia
nas ruas de Santiago...
Toda a resistência conhecida
(ou anônima)
que houve, ou que haverá (?!) em nossa
Pátria Grande
Eu canto.
...
A coragem da mulher salvadorenha,
chilena, brasileira, uruguaya...
A saga das loucas
da Plaza de Mayo.
De todas as esposas/mães/irmãs/amigas
de todas as fortes, calejadas, saudosas, resistentes
companheiras dos desaparecidos latino-americanos...
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
-Por todo o sangue derramado
pelos povos.
-Por tudo isso dito, e pelo que ficou
Ainda guardado, esperando o seu momento,
E c o a n d o:
-Eu canto!
(Júlio Garcia – do livro Cara & Coragem – Poemas)
*Este poema recebeu a ‘Menção Honrosa’ no XXI Concurso Literário Felippe D’Oliveira Santa Maria – RS, em 1997
**Republicado no Jornal A Folha em 27/07/2018.