Sem conseguir privatizar o Estado, Sartori terceiriza o fracasso do governo
“Aprisionado pelo discurso do caos e pela estratégia do quanto pior melhor, Sartori não construiu caminhos alternativos”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Por Sergio Araújo (*)
Acreditem, Sartori responsabiliza a oposição pelo fracasso do seu governo. Coisa de ruborizar estátua. E o último ato desse teatro dos horrores, como tem se caracterizado a atual gestão do Palácio Piratini, foi a fragorosa derrota do governo na convocação extraordinária desta semana. Mesmo com todo o aparato bélico da RBS e dos grandes empresários.
Avesso a insucessos, o governador resolveu “soltar os cachorros” da insatisfação por não ter conseguido votar os projetos que previam a autorização do ingresso do Rio Grande do Sul no Regime de Recuperação Fiscal, do governo federal, e a venda das estatais lucrativas da CEEE, CRM e Sulgás.
“Está manobra não foi contra o meu governo, foi contra o Estado do Rio Grande do Sul”, bradou o governador em entrevista coletiva, repetindo o habitual mantra da transferência de responsabilidades que começou no dia da posse, em janeiro de 2015.
Descrito pela imprensa como um comunicado realizado num “clima de enterro”, o desabafo contundente de Sartori serviu para mostrar um lado seu até então desconhecido pelo eleitor, que se acostumou a ver o então candidato peemedebista como um democrata paciencioso e conciliador. Nada como uma crise para fazer cair as máscaras.
Mas do que Sartori reclama? De que aqueles que representam os milhões de gaúchos que não acreditaram na sua pantomima eleitoral se mostrassem submissos às suas vontades ditatoriais? Quem não recorda das inúmeras reclamações feitas por parlamentares da base aliada por não terem sido informados previamente dos projetos que teriam que ser votados de afogadilho?
Aprisionado pelo discurso do caos e pela estratégia do quanto pior melhor, Sartori não construiu caminhos alternativos para tirar o Rio Grande da condição de submissão econômica do governo federal e implodiu pontes políticas que poderiam auxiliá-lo na busca de soluções para os graves problemas que reduzem cada vez mais a qualidade de vida dos gaúchos.
Teimoso e presunçoso, o governador peemedebista, sempre que cobrado publicamente pela demora na resolução dos problemas, especialmente no que tange ao pagamento do funcionalismo e falta de investimentos nas áreas de responsabilidade direta do Estado, terceirizou a culpa.
Ou era do governo que o antecedeu, ou dos servidores públicos, ou da bancada oposicionista e assim por diante. E foi assim durante três anos e, pelo visto, continuará sendo. Nem mesmo o impressionante declínio de aprovação da população, detectado nas raras pesquisas realizadas pela mídia – ao contrário do que aconteceu nos governos anteriores-, foi capaz de sensibilizá-lo a ponto de revisar procedimentos e aprimorar condutas.
Bem, mas faltando onze meses para o término do seu governo, já está mais do que na hora do agora falante governador responder alguns questionamentos. Vejamos:
O governo não combate a sonegação de impostos e não executa as dívidas das grandes empresas privadas por culpa da oposição?
A Secretaria do Tesouro Nacional, por conta da maquiagem financeira realizada pelo erário estadual para evitar o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, rejeitou o pedido de inclusão do Rio Grande do Sul no Regime de Recuperação Fiscal e a culpa é da oposição?
O governo fecha escolas e a culpa é da oposição? E faz o mesmo com fundações de pesquisa com reconhecimento nacional e internacional, restringindo a inteligência cientifica do Estado, e a culpa é da oposição?
A criminalidade campeia Rio Grande à fora, aterrorizando até mesmo as até então pacatas comunidades interioranas, e a culpa é da oposição?
O desempenho técnico da máquina governista não consegue oferecer alternativas para o imobilismo das suas atividades e praticamente ninguém foi substituído, apesar do acanhado desempenho dos seus secretários e dirigentes do segundo escalão de governo, e a culpa é da oposição?
Ora governador, haja paciência para ouvir seus queixumes e aguentar suas tergiversações. Assuma suas culpas e responda por seus erros.
Mas como neste governo nada está tão ruim que não possa piorar, um dia após a inauguração do “muro das lamentações”, Sartori decide implodir mais uma ponte. Resolveu não comparecer à posse do novo presidente da Assembleia Legislativa, Marlon Santos (PDT). Algo surreal, tendo em vista a dependência que o governo tem do Parlamento para tentar salvar o que restou da sua desastrosa gestão.
E o seu partido ainda acha que ele tem condições de se reeleger. Algo me diz que desta vez serão os gaúchos que irão terceirizar a intenção dos peemedebistas. Sem choro, nem vela.
(*) Jornalista - Via Sul21