Reeleição, a sinuca de bico de Sartori
“Sartori é sim, candidatíssimo. Só está se fazendo de desentendido”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Sergio Araújo (*)
José Ivo Sartori, mesmo que não queira, vai ter que concorrer à reeleição. Digo isso baseado em constatações lógicas e inquestionáveis. Senão vejamos:
Falta apenas 10 meses para a eleição e o MDB (o PMDB sem o P) não tem nenhum plano B para o caso de Sartori desistir de concorrer. E como até agora não apareceu ninguém disposto a carregar o espólio negativo do governo Sartori, como diz o provérbio português “quem pariu Mateus, que o embale”. Ou numa adaptação futebolística, “vai que é tua Sartori”.
Que os mais ingênuos não se iludam com a possibilidade de que Cairoli (PSD), vice de Sartori, possa ser o representante do atual governo na eleição de 2018. Não é da prática emedebista delegar poder e sim apoderar-se dele. Temer que o diga. Aliás, nesse aspecto, pelo desembarque dos partidos que compuseram a base governista, só restará ao próprio MDB a defesa da sua nefasta e improdutiva administração. Não tem escapatória.
Mas o maior indicativo de que Sartori será candidato é a sua declaração à imprensa de que está em dúvida se irá concorrer à reeleição. “Pode ser que sim, pode ser que não”, afirma. Uma estratégia do discurso vazio por demais conhecida do eleitor gaúcho, especialmente pelos que se deixaram abduzir pelo personagem de frases desconexas e de pouquíssimo comprometimento, incorporado por Sartori na campanha eleitoral de 2014.
Ora, se até a véspera do último pleito estadual ele dizia abertamente que não queria ser candidato e foi, imagine agora que se mostra em dúvida. É sim, candidatíssimo. Só está se fazendo de desentendido para, mais uma vez, desempenhar o papel do gringo boa gente, desta feita acrescido da máscara de um governador bem intencionado que se tornou vítima do caos econômico. E suas raras manifestações públicas comprovam que ele já vem ensaiando o novo personagem.
Em meio a uma depreciação popular sem precedente, comprovada pelas pesquisas, só uma circunstância pode justificar a tentativa de continuidade do MDB no controle do Estado: a obra inacabada do desmonte da máquina pública. Uma projeto que vem sendo construído gradativamente ao longo dos 16 anos dos governos emedebistas de Simon, Britto, Rigotto e Sartori.
Mas não pensem que a privatização do Estado tem no MDB seu único entusiasta. Os liberais oportunistas e a direita ortodoxa também estão preparados para defender a mercadocracia (governo do mercado) e a supressão dos direitos e garantias individuais. E como pensam que o dinheiro compra tudo, tratam de erguer altares (palanques) onde serão entronados os pseudos “salvadores da pátria”. Uma espécie de remake da fase “caçador de marajás”, que elegeu Fernando Collor de Mello.
Mas a logística desse exército exterminador do Estado não se limita ao ambiente político. Ele é muito mais amplo e socialmente envolvente. Refiro-me ao monopólio midiático e aos grandes conglomerados empresariais. Os representantes da turma dos que não tem constrangimento com o lucro, mas que tem aflição com os direitos trabalhistas e previdenciários da classe trabalhadora.
Diante dessa concorrência desleal, sob todos os aspectos, não restará aos partidos de esquerda outra alternativa que não seja a arregimentação de forças e de esforços, Se possível no primeiro turno, para garantir uma das vagas no segundo. E isso vale tanto para as eleições estaduais como para a nacional.
Será, ao que tudo indica, uma luta ferrenha e desproporcional – porque estamos diante de um eleitor desapontado, desconfiado e muito mais crítico –, mas jamais inglória. Vai ser, tudo indica, a eleição das eleições, onde irá predominar o debate político e o embate de ideias e projetos de desenvolvimento. E aí, tergiversações marqueteiras como “Meu partido é o Rio Grande” não irão proliferar. Uma ótima oportunidade para os eleitores acertarem suas contas com Sartori que, ao contrário da eleição passada, vai ter que falar muito e, principalmente, se explicar muito.
(*) Jornalista (Postado originalmente no Sul21)