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Velhos e novos golpismos


Por Juremir Machado da Silva*


Parece que no Brasil tudo se repete como golpe: de azar, de sorte, de Estado, de vento, de colarinho branco, de farda. Nos anos 1950, sargentos, coronéis e generais publicavam manifestos e articulavam o que consideravam ser o melhor para o Brasil. Até sobre a inflação ou o aumento do salário mínimo opinavam. Na década de 1960, com novos ritmos, tudo continuava igual no quartel de Abrantes. Milicos interpretavam a Constituição e davam ou não posse aos presidentes da República. O Clube Militar servia-lhes de covil para conspirações. Em 1964, um general Mourão apressou a tragédia.


Em 2017, outro Mourão, não menos histriônico, sonha com intervenção fardada e quer ser presidente do tal Clube Militar. Vai para casa mais cedo.


Tudo se repete desde 2016 como uma marchinha de carnaval menos divertida e bastante mais marcial: o STF se dobra sempre que espremido, senhoras tomam ruas, os Estados Unidos se posicionam dissimuladamente, o mercado fareja o golpe bilionário, a mídia se vende por convicção, a moral e os bons costumam vigiam a cultura em nome do combate ao comunismo. Nada de nu, nada de sexo, nada de ideologia de gênero, nada de nada, pode ser a gota d’água, pai afasta de mim esse pessoal carregado de ódio e de nostalgia tinta de sangue. Em 50, combatia-se Vargas. Em 60, o herdeiro de Vargas. Em 2017, a Era Vargas sofreu o golpe fatal. Adeus CLT.


Entramos na uberização global.


O ministro da Defesa de hoje veio das hostes dos que queriam atacar ontem. O velho PCB virou novo PPS. O MDB virou PMDB. Esquerda virou direita. Centro virou direita. A direita virou extrema-direita. Esquerdistas foram à prisão por crime comum para conviver com direitistas menos previdentes do que os privilegiados tucanos. Só Mourão continua Mourão. Pau que nasce golpista morre golpista. Lá vem o Brasil descendo a ladeira. Lá vai o Brasil repetindo os seus erros. Uma nova noção de responsabilidade surgiu: manter no poder um presidente acusado de corrupção para evitar, depois de uma deposição com cara e cheiro de golpe, de armação, uma nova troca de governante num curto espaço de tempo, o que poderia ser desastroso para o país.


No Brasil tudo se repete como tragédia. Nós rimos como se fosse comédia. Estamos acostumados com o pior. O novo Mourão disse uma verdade trivial: Michel Temer se mantém no cargo graças ao seu balcão de negócios. Cada voto vale uma fortuna. O novo Mourão, na sua condição autoproclamada de juiz de fora do parlamento, sem toga nem gravata, mas com farda verde-oliva e olhar cinza, tirou a conclusão errada: que o Brasil precisa de menos democracia. Veio naquela toada: é bom já ir se preparando. Sem essa, general. Vá cuidar da família.


Em 1950, Getúlio não podia ser candidato. Se fosse, não podia ser eleito. Se fosse, não podia tomar posse. Se tomasse, não poderia governar. Deu no que deu. Em 2018, Lula não pode ser candidato. Se for… Se todos os golpes falharem, resta um, tão velho como os outros: o parlamentarismo. No lugar da UDN, o PSDB. Tudo igual. Uau!


*Jornalista - via Correio do Povo


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