Janio: ser contra Lula é a “razão de viver” da neodireita
Por Fernando Brito, no Tijolaço*: Janio de Freitas, em sua coluna de hoje, na Folha, sai do tiroteio da votação da denúncia contra Temer e olha para frente, enxergando em nome de quê se apresentam os candidatos da neodireita brasileira, em meio aos frangalhos de suas representações tradicionais, as ruínas tucanas e o vasto e desmoralizado horizonte dos agrupamentos políticos convencionais.
E, com a experiência que as décadas de janela lhe dá, vê o que poucos percebem, embora evidente.
A direita não tem um projeto, tem uma negação de projeto. Não importa como e com quem, seu negócio é impedir que o poder seja ocupado por quem o tenha. Vibra com a destruição que o clima de histeria judicial fez ao país. Espécie oportunista, sabe que só tem chances de vicejar em terra arrasada e, afinal, porque se importa pouco ou nada com a terra e a gente que nela vive.
Pela negação, representam a afirmação de que este país – pelo desamor que lhe têm suas elites e pela mediocridade com que a mídia as revestiu – acabou reduzido a uma só esperança de voltar àquilo que descobriu, na década passada, que podia ser “o normal’: ter paz, crescer e tornar-se mais justo.
Sem mostrar ao que vêm, novatos dividem desejo de Lula ser candidato
Quando João Doria passar por São Paulo, talvez não perceba, mas seus apoiadores estarão em menor número. Sua base eleitoral esfarinha aos poucos e sem cessar. O que é perceptível até pela diminuição de espaços e tempo que o projetam nos jornais e TV. Sem indício algum de que o desejo de se fazer conhecido resulte em mais notoriedade sua, por aí afora, do que em decepção do seu possível eleitorado. A agenda de Doria para a semana previu sua presença nesta quinta (26) em Aracaju e sexta (27) em Maceió. Para o que pode obter por lá, bastaria ir a quase qualquer um dos municípios paulistas.
Henrique Meirelles, posto diante da realidade de que a presunção e promessas de êxitos no comando da economia não se cumprem, passou-se para o caminho da salvação. Não a da alma. A do mais terreno voto: as igrejas evangélicas e sua comprovada potência eleitoral. Neste caminho, porém, outra ambição neófita busca converter o seu conceito para o de pessoa confiável também pelo eleitorado civil, que sempre desprezou. Meirelles e Bolsonaro estão em disputa entre si.
Jair Bolsonaro, o ex-tenentinho que planejou explodir as entradas de água potável no Rio, pensou que fazer falas de bom moço nos Estados Unidos desse à sua imagem, aqui, alguma dubiedade brasileira. Azeitada, em seu caso, com a evidência de filiação ao americanismo mais vulgar. Mas, entre outras cabeçadas agora sem capacete, oficializou a sujeição dando Trump, o abominável, como sua inspiração. Nem a direita mais monetária gostou.
Luciano Huck não vai nem fica. Não sabe que, em política, ir inclui a possibilidade de desistir com uma desculpa, e até mesmo na excepcionalidade de uma explicação honesta. E protelar decisão, além de sugerir inseguranças, quase sempre leva a perder oportunidades. Logo aparecerá outro aventureiro a comprovar a meia verdade de que em política não há espaço vazio (exceto Lula, nenhum político à esquerda pode empregar tal conceito). Existe, ainda, a velha crítica: “…viu o cavalo passar e não montou”. O DEM já confirmou essa tradição: mal iniciou conversações com Huck, “desistiu dele, porque em três encontros não decidiu se quer ou não quer”.
Nenhum dos quatro novatos da “renovação” (Bolsonaro pensa que é político veterano, sem jamais ter ido além de agitador de extrema direita) mostrou ainda ao que vem. Têm, em comum, o traço básico de serem portadores do desejo inconfessável de que Lula seja candidato. Por serem, todos, pretensos candidatos gerados na visão oportunista de que representar o anti-Lula é uma chance eleitoral como nenhuma outra. Em boa medida, suas candidaturas de direita e a candidatura de Lula são uma coisa só.
*Fonte: Tijolaço