Pais que levaram os filhos para ver “gente nua” em museu de Paris falam da tentativa de censura à ar
POR WILLY DELVALLE, de Paris*
Uma campanha para incentivar os pais a levar os filhos para ver gente nua. Poderia ser no Brasil, mas é no Museu d’Orsay, em Paris.
Há dois anos, banners com a mensagem “tragam seus filhos para ver gente nua” foram espalhados pelo transporte público da cidade, o que, de acordo com os organizadores, foi um sucesso e não resultou em polêmicas.
A proposta é retomar a campanha neste mês. Depois que o artista Wagner Schwartz foi acusado de pedofilia, junto com o Museu de Arte Moderna de São Paulo, depois de um vídeo que uma criança toca o corpo dele nu durante uma performance, imagino se uma ideia como seria posta em prática no Brasil.
Perguntei a visitantes do D’Orsay, que é repleto de esculturas e quadros representando a nudez, o que eles pensam tanto sobre a campanha e também expliquei a eles o ocorrido no Brasil.
Para a francesa Martine, de 57 anos, a iniciativa francesa é muito boa. “É uma outra maneira de ver o corpo, interpretada pelos artistas de uma outra época, quando o corpo não tinha a mesma visão que hoje”.
Ela, cujo filho tem 32 anos, disse que se ele fosse criança o traria do mesmo modo ao museu, “sem nenhuma dificuldade”.
Para Martine, o que ocorreu no Brasil foi um exagero. “Pedofilia não tem nada a ver com isso. Há um artista que tira fotos de pessoas nuas, fotos magníficas. Não tem nada de chocante”, opina.
O inglês Peter, 80, traria o neto. “É importante que as crianças apreciem a arte”, afirma. Sobre o caso do Brasil, ele acredita que a orientação cabe aos pais. “A criança precisa entender que não é sexual, que é arte. O papel dos pais é fazê-la entender isso e observar suas crianças. O mais importante é que a criança que vá assistir a uma performance como essa tenha a maturidade necessária.”
O alemão Holger, 50, tampouco vê problemas na nudez. No entanto, ele avalia que essa percepção depende da cultura. “Aqui na Europa, é menos complicado do que em outras partes do mundo. Às vezes, coisas que têm a ver com religião são muito diferentes. É uma questão de tempo que as coisas se tornem mais fáceis”, declara. (...)