Sendo sincero
Por Pylla Kroth*
Papo reto: em linhas gerais o que tenho a dizer é, que “os dias estão assim”. A ditadura foi recente e nos deixou marcas terríveis! O Governo menosprezando todos nós. Esses mesmos que vos elegem? Eu particularmente tenho certeza que foi “Golpe”, lutei, saí nas ruas pra que isso não acontecesse. Porque todos teêm certeza que foi golpe.
Doem-me muitas coisas que este fato produziu. O que me afetou primeiro (antes mesmo da brutal crise econômica política e moral da aniquilação das políticas publicas, do congelamento dos gastos em educação, saúde e assistência, por vinte anos, ferindo assim a constituição de 1988, que beneficiava aos mais necessitados, o aumento astronômico dos combustíveis e dos impostos em geral) foi a intervenção no campo que me é mais precioso: os afetos.
Vejo amigos, conhecidos,familiares e colegas de trabalhos em lados opostos. E de forma visceral. Muitas vezes irreconciliável. É que neste momento da história não é mais possível a neutralidade. Todos tiveram que tomar uma posição. Todos “entraram pra política”. Ao menos é assim na minha timeline da rede social e no meu dia a dia, cada um no lado que acreditava. São pessoas que eu conheço. E suas intenções, sua boa vontade, sua motivação. E todos estão se sentindo traídos nesse momento.
Ouço e leio muito: “os políticos são todos iguais, todos ladrões, blá blá blá”. Estou chegando na minha terceira idade e confesso que ‘já passei por várias’ e gostaria de lhes dizer que não pense assim, não vamos desistir agora que tomamos posição. Vamos continuar. Acompanhe a forma que votou seu deputado, senador, vereador. Acompanhe os atos do executivo. Sei que isso pode ser dolorido, mas faça. E se eles não honraram seu voto, a vergonha é deles. A responsabilidade é tua. Acompanhe, cobre, não tire o corpo fora, estamos no mesmo barco.
Quem foi à rua de camisa amarela tem obrigação de votar. Quem foi a rua de camisa vermelha, também, poxa! Existe saída, sim. E a demonização da política expressa em “os políticos são todos iguais” , “cansei , não faço mais nada”, “vou rasgar meu titulo” “anular meu voto”, “votar em branco”, não ajuda em nada agora, sinceramente. Tá bem que o show de horrores patrocinado pela Câmara dos Deputados, tanto na votação do “impeachment” (no meu ponto de vista “golpe”), quanto na sessão que inocentou Temer (que sinceramente pensei que seria investigado), envergonha todos os brasileiros. Mas a única saída desse lamaçal é, sim, pela via política democrática. Fora isso é ilusão.
Pra um outro grupo (nem tanto amigo assim) que está pedindo intervenção militar, bem, pra esses pediria que voltem para as aulas de história. Elas podem ser retomadas na vasta literatura sobre o tema, na música brasileira e latino americana e em dezenas de filmes brasileiros, argentinos, e chilenos (para citar só três países da “Operação Condor” – aliás leiam também sobre a operação).
Mas se tudo isso for muito, podem assistir alguns capítulos da minissérie “Os dias eram assim” da Rede Globo, do que eu diria “Os dias eram mais ou menos assim”, pois acho de um didatismo rasgado, mas aconselho ficar só na minissérie, porque o jornalismo da Globo (e de outras emissoras)…Bhei! esse é um dos grandes responsáveis por nós estarmos afastados, amigo, por termos chegado nesse brete de desilusão , é um dos grandes responsáveis por um dizer “golpe” e o outro dizer “Impeachment” . Enquanto a nação sangra.
Mas, amigo, eu estou tranquilo. Sigo fazendo minha parte e vou continuar cantando, sou artista e na verdade nunca fui tratado com nobreza mesmo, quero apenas um pouco de dignidade como cidadão e sei que foi golpe pra nós dois. Mas agora tanto você, de camisa amarela e eu, de camisa vermelha, não vamos desistir, vamos nos manifestar cada um ao seu modo e se sobrevivermos a isso tudo, morreremos sem ter visto o país que ia inventar o futuro, e o futuro já será passado. Portanto, acho que vale a pena lutarmos juntos. Embora tenhamos perdido boa parte de nossa vida nesse negócio, que acredite, querendo ou não, é nosso.
Conheço e convivo com uma pessoa que diz não acreditar na eficiência dos regimes democráticos vigentes (mais em função da corrupção do ser humano e sua extrema inclinação à indisciplina no cumprimento de seus deveres do que em função do ideal democrático em si), mas aprecia o fato de que estes mesmos regimes, ao contrário dos totalitários, asseguram, ao menos em teoria, a plenitude os direitos individuais, entre eles o mais importante, que é a liberdade de expressão, da qual, na sua opinião, se o uso fosse bem feito talvez faria toda a diferença para que estes regimes se tornassem ao menos um pouco mais eficientes. Talvez? Acredito profundamente que sim, que nossa liberdade de expressar o descontentamento, protestar e cobrar pode trazer o que nossa bandeira, aquela bandeira de todos nós enquanto nação, tanto pede: “ordem e progresso”, principalmente progresso, embora talvez não sem criar o que alguns poderiam chamar de alguma “desordem” primeiro!
*Músico.
**Postado originalmente no Blog do Claudemir Pereira
(Edição final deste Blog)